terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Para Cecília

A Cecília me pergunta em que espelho ficou perdida a face dela. Não faço idéia, mas eu bem que deveria devolver a pergunta: Cecília, e quanto à minha face, cadê?

Olho de novo para o espelho, qual madrasta malvada sem Branca de Neve. Existe alguém mais bela do que eu? E mais triste? Existe um quarto mais bagunçado que o meu? O espelho, espelho meu bem poderia ser o retrovisor. O carro estacionado no meio da via expressa e eu o dia inteiro olhando para frente mas na verdade olhando para trás, para longe, longe, tentando decifrar qual é aquele ponto de fuga. Acho que foi ali que mudou tudo, só falta descobrir onde foi. Deve estar ali o tal do espelho que roubou a face da Cecília. Vai ver é até o mesmo buraco do espelho do Arnaldo Antunes. Aquele, que me deixou trancada aqui dentro do lado de fora, do lado de cá onde eu caí. E não sei como faz para voltar.

Até uns meses atrás eu era muralha de pedra. Hoje de repente ficou assim, joelho ralado de menino, que dói até com a brisa mais leve que bate. O espelho reflete olhinhos de insônia. Cadê sorriso que brilha, cadê salto alto, cadê trocadilho sem graça? Cecília, eu também não tinha os olhos vazios e o lábio amargo. A diferença é que eu não tenho nem vinte e cinco anos.

E, embora também não esteja nem alegre, nem triste, continuo em desvantagem: não sou poeta.

3 comentários:

tiaselma.com disse...

Gosto tanto desse blog que comento duas vezes. Cruzes!

"O inventor do espelho envenenou a alma humana."(Fernando Pessoa)

Beijocas.

Dalva Rêgo disse...

Tem um desafio pra ti em meu blog, querida. Beijos!

Italo Lemos disse...

Adoro esse blog...tem uns textos interessantes e intrigantes como esse. Mas a face da Cecília e a sua estão aí em algum lugar, só precisa q alguem as encontre, e de preferenciia alguém que não esteja procurando. Abraaços.!''