segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Da insônia


Horário de verão não facilita em nada para quem já tem problemas para dormir. Os programas da madrugada ficam assistíveis mais cedo e, quando às três horas da manhã você resolve ligar a tv pra ver se pega no sono no meio de algum filme do Corujão, já está passando o primeiro jornal do dia. As notícias para quem acorda cedo, dizem os âncoras. Como assim? Eu ainda nem dormi.

Provavelmente, uma das razões por que Deus deu a insônia ao homem é para fazer a gente pensar na vida. Sério mesmo. Poucas pessoas ficariam voluntariamente quietas no escuro por horas. Só enquanto a gente alterna lado direito, lado esquerdo, mão por cima, mão por baixo do travesseiro, para avaliar prós e contras e planejar soluções gigantescas de futuro, de decoração a planos para mudar o mundo. De comprar travesseiros novos a se mudar para o Chile e morar para sempre numa cabana no sopé da cordilheira, fim.

E, se não deu para pegar no sono até agora, não é o telejornal que vai ajudar. Só para falar no Chile, e na visita ao deserto do Atacama que estava marcada para novembro e foi indefinidamente adiada até a próxima vez que eu ficar desempregada. Descobri que os mineiros que não ficaram soterrados e nem ganharam US$10 mil cada um para sair do buraco depois que saíssem do buraco estão há setenta dias sem trabalhar e sem receber salário. Vejo a campanha eleitoral descer o nível mais alguns degraus e só não fico mais triste porque, bem, eu moro no Maranhão.

Daí o travesseiro incomoda de um lado. O pescoço dói, eu viro pro outro e procuro uma almofada pra apoiar. Devia comprar um jogo de cama pra cá. E umas almofadas, e uns lençóis. E umas roupas novas. E uma calça que me servisse. Falando nisso, é segunda-feira, eu deveria começar uma dieta...

Ai, que dor nas costas, deixa eu experimentar deitar de outro jeito. Recebi um email do chefe ontem cobrando aquele outro projeto. Mas eu acho que vou mudar tudo, não vai ser aprovado do jeito que está. Amanhã depois do trabalho eu bem que deveria começar a correr na beira da praia, como tinha planejado. Difícil, vou estar morrendo de sono, já que até agora ainda não consegui dormir. Eu devia era procurar um médico. Meus olhos já estão ardendo e nada de o sono chegar. Acho que vou ligar a luz ou o computador, ler um pouco. Epa. Que barulho é esse?

Ah, sim, é o despertador. Hora de ir trabalhar.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dias de Faxina

Toda casa tem um cômodo da bagunça. Aquele que raramente é limpo e geralmente é reservado para aquelas coisas que a gente guarda na esperança de que possam servir algum dia. Pode ser uma despensa atrás da escada, um sótão empoeirado, um porãozinho sem janelas, um quartinho nos fundos do quintal, na área de serviço.

E aí, mais ou menos uma vez por ano, tem o dia de limpar o cômodo da bagunça. A gente espana as sujeiras e abre todas as caixas com cautela, com medo de algum bicho esquisito pular de dentro dos guardados. Limpa papéis velhos com a camiseta antiga que acabou de cortar em pedaços com tesoura. E só então coloca tudinho de novo no lugar, jurando que dali em diante tudo vai ficar sempre arrumadinho e cheirando a Pinho Sol, fim.

Um blog pessoal é tipo o cômodo da bagunça. Cada crônica e cada desabafo é um pedacinho de guardado que a gente tem pena de jogar fora. De vez em quando, a bagunça fica grande demais. E se falta tempo de arrumar a única saída é fechar tudo a chave por uns tempos, ignorar os comentários de “você bem que deveria dar uma arrumada nisso”, sair de fininho e ir cuidar da vida, fazer uma revolução, cortar o cabelo, tomar banho de espuma na banheira, sei lá.

Só que uma hora a gente sempre tem que voltar. Olhar a bagunça toda sem saber como começar ou qual a primeira caixa a abrir. Sem lembrar direito como costumava combinar as palavras. (Re)começo, portanto, sem saber por onde: só abrindo as janelas e deixando o vento entrar. Estou de volta.