domingo, 30 de maio de 2010

Corações

Há corações feito moleque do sinal, feito prostituta parada na esquina, feito eleitor irresponsável. Rendem-se por qualquer agrado. Qualquer firula de sorriso, carinho e rosa vermelha e eles já estão lá, pulando na bandeja de prata e se oferecendo no meio do salão. “Estou aqui, me leva com você”.

Há corações feito guerreiro medieval, feito Joana D’Arc, feito idealistas partidários. Apanham, mas não desistem. Costuram as feridas e, tão logo o machucado começa a sarar, lá estão eles de novo, na fileira de frente da batalha, no foco de luz da pista de dança, em cima do palanque, sentando na cadeira desocupada ao lado do coração alheio.

E, antes que eu me esqueça. Há também corações feito fugidos da prisão, feito conta de político corrupto em paraíso fiscal, feito prestação de contas de autarquia de administração desencaminhada. Só mostram a décima parte do que são realmente, e há que esperar uma verdadeira operação policial, literal ou figurada, para descobrir o que se escondeno meio dos tecidos alheios.

Há, enfim, corações feito labirinto, que convidam a entrar e depois te deixam perdido lá dentro, sem saber para que lado ir para ficar seguro.

- Se continuar assim, vou começar a gostar de você.

- E eu, que já estou gostando? O que eu faço?

E há corações que são tudo isso junto.