domingo, 27 de dezembro de 2009

Mulheres acima da média*



- Não tem do seu tamanho.
- Não perguntei se tinha do meu tamanho, perguntei quanto custava.
- É, mas não tem do seu tamanho. Não é para você mesma? Pois é, não tem.


É claro que eu nunca mais voltei àquela loja. Mas o episódio me voltou à mente hoje, alguns meses depois, no frenesi de consumismo ano-novo-roupa-nova. E tinha que ser um vestido branco. Ou um bermudão divertido. Ou um jeans. Qualquer coisa, só tenho mania de estrear o ano estreando roupa também.


- Tem 46
?
- Não, senhor
a. Esse modelo só vai até o 42.
- E esse vestido aqui?
- Qual o tamanho, senhora?
- G ou GG. Não é sempre que o G serve.
- Sinto muito, mas só temos P e M.

(E ela ainda me chamou de "senhora". Que raiva.)

Admito. Nos últimos dois anos passei do manequim M para o GG e das calças 42 para as 46 (quer dizer, outro dia experimentei uma 48 que serviu). Quinze quilos em vinte e quatro meses, vinte a mais que o meu peso ideal que, segundo a última nutricionista que visitei, seria de não mais que sessenta. Há cinco meses na casa dos oitenta, tenho uma certeza: não vai ser fácil diminuir.

Embora eu reclame o tempo todo, nesses dois anos, provavelmente houve apenas uma ocasião em que eu fiquei realmente tentada a forçar os ponteiros da balança para baixo até quebrarem. E é claro que foi com o moço dos olhos bonitos, que me apareceu de pneus arriados por uma moça que – eu tenho certeza – é tão magricelinha que não pode nem doar sangue.

Abaixo as mulheres mais velhas que eu que, mesmo assim, continuam a comprar na seção infantil. As estatísticas dizem: é 44 o tamanho médio do manequim da mulher brasileira. Mas esse é, justamente, o
maior tamanho à venda nas lojas. O apenas mediano, então, é considerado o máximo possível? Que nicho da moda está reservado a nós, moças que sempre foram acima da média em todos os aspectos? E não me venha com essa de lojas especializadas, que não cola.

Não nego que, mesmo felizes, mulheres com sobrepeso e com mais curvas e dobrinhas
que a média pensem freqüentemente em puxar ferro, trancar a boca e a geladeira com cadeado e até em fazer amizade com a maravilhosa Sibutramina ou até com outras “minas” menos agradáveis.

A sibutramina eu testei. Me levou sete quilos em três semanas, mas me deixou tão ligada que eu fiquei assustada. Parei e ganhei tudo outra vez e mais um pouco. Com as outras “minas”, felizmente, eu nunca conversei. Não vale a pena. Conheço moça magricela que me olha de soslaio e diz "gorda" com ar depreciativo, mas chega em casa e mete o dedo na garganta pra pôr pra fora as calorias. Não vale a pena.

Vale, sim, a pena, e é bem mais divertido, esticar um pouquinho a largura do cós das calças e alargar a cintura dos vestidos. Educar vendedoras arrogantes para apreciarem a própria celulite antes de virarem o olho para a da vizinha. E, sobretudo, incluir nas lojas dos shoppings afora tamanhos acima de 44. Mais importante ainda: deixá-los bem à vista, de preferência com cartazes gigantes, dizendo assim: voltado para jornalistas consumistas com três empregos e dinheiro no bolso e mulheres acima da média em geral. Se puder ser antes do ano-novo, agradeço.

*Postagem ilustrada com imagens da modelo Flúvia Lacerda, manequim 48 e linda!

4 comentários:

Anônimo disse...

e todas nos sofres mesmo, com tudo isso tambem fico frustrada com essa minha facilidade de engordar.
cada vez mais.qdo vou a loja nunca tem o meu numero as melhores roupas so tem numero pequeno.
que droga nao aceito isso.as gordinhas tem que ter os mesmos direitos que as magras.

Anônimo disse...

Sua reclamação é justíssima, Su. Precisamos educar esse pessoal de loja sim. Revoltante quando menosprezam a pessoa cheinha ou, ao contrário, de olho na comissão, dizem "noooossa, tá lindo, é a sua cara!", com a pessoa parecendo um caqui vestido. Nem céu nem terra.
Psiu... segredo ridiculamente básico para perder peso: comer de 3 em 3 horas e queimar mais do que consumir. É numérica a parada, Su.

Beijos de sua leitora e torcedora nº 1.

UM ABENÇOADO 2010!!!

Anônimo disse...

Realmente... Isso é péssimo ! As magrinhas demais também sofrem com isso. Principalmente quem usa 34/36, que só cha na seção infantil; tem que sair por aí igual a barbie ! rsrs Ou, mandar diminuir as roupas. ótimo post.

Talita Braga disse...

Jurava que era coisa da minha cabeça de recém-afofada. Visto 44 e me revolto ao ouvir que esse é o maior número da loja e ainda me deparar com uma coisa ínfima que não veste um 38! E a cereja do bolo é ouvir um -É, a forma veio pequena mesmo....
Adorei o blog, virei com frequência.
Feliz ano novo!