sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sonho sonhado só

Eu ainda sou novinha –nem passei da casa dos vinte e poucos para a dos vinte e muitos. Mas já falo com saudosimo. É que eu costumava ser do tempo em que as pessoas tinham sonhos.

Nem comer precisava. Queria correr o mundo e ver coisas e pessoas e engolir cidades e fazer de tudo pedaços de amor e de chocolates e uma casinha em amarelo clarinho, onde todos viveriam para sempre e onde nunca se ficaria sozinho num sábado à noite, onde chocolates não teriam calorias e onde eu usaria todas os vestidinhos do mundo sem nenhum deles marcar a barriguinha, fim. Mas o tempo passa, e um apartamento para chamar de seu, mesmo que não seja feito de chocolate, começa a fazer parte da lista de itens indispensáveis à vida. Junto, claro, com uma promoção no trabalho, um aumento e uma pós-graduação.

Daí que não se sonha mais dormindo: até porque se dorme com remédios. Tipo eu que aos 23 dependo de uns florais para conseguir pegar no sono por quatro horas diárias. Daí que não se sonha mais acordado: se faz projeto, planeja, elabora um documento, faz justificativa, lista de prós e contras e árvore de possibilidades.

Você é desses? Bem-vindo. Eu nem lembro mais que gosto tem uma escolha sem pensar em conseqüências, um telefonema só porque ah-que-vontade-que-eu-estava-de-ouvir-sua-voz. Tem que ser preto no branco, gosta de mim explique o porquê para que eu possa avaliar se daríamos certo juntos, favor preencher este formulário e aguardar retorno. Faço pauta e roteiro e chego em casa lendo uns seis jornais e umas três revistas tudo ao mesmo tempo porque, afinal de contas, preciso ter opinião formada sobre tudo, incluindo o golpe militar em Honduras, a crise no Senado e quem deve ficar com os filhos de Michael Jackson. Suspiro de ponta do nariz colada no nariz alheio e sorriso sem razão? Dá tempo não, baby. Tem muita coisa pra fazer.

Vai ver se Martin Luther King vivesse hoje ele não teria dito “Eu tenho um sonho”. Convocaria de uma coletiva de imprensa e nos jornais do dia seguinte sairia algo assim: “Tenho diversos projetos que gostaria de ver concretizados, sugiro que montemos uma coalizão”. E se fosse no Brasil, quando o projeto ficasse pronto e fosse aprovado pela Câmara e pelo Senado com todas as suas emendas e o aval do presidente Lula, King estaria quase nos 80. Mas vai ver também é assim que (não) funciona hoje. Você idealiza? Pois é. Hoje em dia, nem eu.

Um comentário:

Anônimo disse...

20 e poucos é época de saudosismo pra muuuuita gente. to nessa tb..
mas n deixo de lado meus sonhos..durmo pouco, vou pra casa preocupado com trabalho, fico fazendo contas de qtos anos levo pra comprar uma casa..todas essas coisas de adulto, mas o importante é não se desconectar do seu lado criança
matenho contato com os amigos de infancia, jogo videogames, assisto desenho, leio gibis, fico brincado na faculdade..
a gente tem mania de procurar uma vida completa..eu só procuro uma feliz ^^