sábado, 4 de julho de 2009

O cara que eu mais amo no mundo

Este é um texto para o cara que eu mais amo no mundo.

Ele não ri barulhento e escandaloso feito eu. Não sei de onde puxei isso. Mas ambos temos o mesmo jeito de sorrir muito, com os olhinhos quase fechados e de qualquer besteira que soe remotamente engraçada. Nós dois temos o mesmo jeito de fazer trocadilhos sem graça e rir sozinhos deles depois. Tipo naqueles dias que ele queria falar sério comigo e não conseguia, e terminava disfaçando com um: “Presta atenção, tu não presta...”. Hoje a gente sabe que presta, e muito, um para o outro.

Esse é um texto para o cara que mostrou desde muito cedo as grandes conseqüências das minhas menores escolhas. Eu nunca me importei muito. Talvez por sermos tão parecidos, algo em mim de vez em quando me lembra que tenho um futuro interessante pela frente. Afinal, ele teve. E da mesma maneira, provavelmente daqui a uns vinte e cinco anos vou olhar ao meu redor e vou gostar do que vir. Não é só doutor que vive, não é? Ele disse isso quando tinha a minha idade. E estava certo. A gente que não é doutor vive mais.

Mas esse é um texto para o cara que é grandão e, por isso, me fez meio grandona e fora dos padrões também. Que me legou essa eterna luta contra a balança e o zíper das calças jeans. E, ao mesmo tempo, é um texto para o cara que, do mesmo jeitinho que eu faço, questiona isso de viver escolhendo o dia inteiro e se pergunta se não teria sido melhor usar o anel em vez de calçar a luva, sair correndo em vez de ficar tranquilo, subir nos ares em vez de ficar no chão, guardar o dinheiro em vez de comprar o doce, ou isto ou aquilo.

É um texto para o cara que, tal como eu, de vez em quando se olha no espelho e não se reconhece. Para o cara que, vez por outra, quer se encostar num canto e desejar não ter nada mais que dar conta. É para ele mesmo, aquele cara que precisa que precisem dele e, no entanto, nem sempre acerta o que fazer para ajudar. E mesmo quando acerta, tem mania de achar que está errando. Mas não tem problema: já valeu a intenção.

É um texto para o cara que perde a motivação e acha que perdeu a esperança de vez em quando, mas que volta e meia as reencontra de mãos dadas, numa esquina virada, num telefonema ou de repente até perdida no meio da blogosfera. É um texto para o cara que eu sei que vai querer chorar quando ler esse texto.

Um texto para o cara mais parecido comigo que eu já vi no mundo, mas que eu amaria mesmo que fosse totalmente diferente, porque tem amor que é incondicional e a gente não escolhe e eu amaria mesmo que ele não me acreditasse, ou não confiasse, ou não estivesse nem aí. Mas ele está, mesmo quando não liga muito e só me conta nas entrelinhas o quanto tem precisado de mim.

Enfim, este é um texto para o cara que eu mais amo no mundo.

Um texto para o meu pai...

3 comentários:

tiaselma.com disse...

Lindo! Sincero toda vida.Eu também choraria se recebesse.
Estava saudosa, sabia? Sabor Tangerine vicia.

Beijocas da leitora.

Anônimo disse...

tem certas horas que eu me sinto tão desinteressante quando converso com ele.
vai saber por quê.

(vc n está escrevendo de acordo com o novo acordo ortográfica. sua ARCAICA!)

Beliche disse...

Filha,

Tem um cara com muitos defeitos, meio desajeitado, meio inseguro com as escolhas que foi forçado a tomar, que vive tentando decretar a felicidade das filhas, "salvá-las" dos perigos do mundo. Tem um cara que cuidou das filhas desde o primeiro alento, que trocou fraldas, limpou cocô e xixi, lavou e gomou centenas de fraldas, que cantou todas as canções de ninar jamais cantadas, que ensinou e aprendeu junto. Tem um cara grandão mas que é frágil à beça, que tem preguiça, mas é perseverante, que nunca teve vergonha de amar e perdoar.
Esse algué sou eu, o teu PAIZÃO.
TE AMO E TE QUERO BEM