quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O Assalto

Sete e meia da noite, ônibus meio cheio e bem na hora que o trânsito caótico começa a desafogar na maior avenida da Ilha Encantada. Já é praxe. Encosta a cabeça na janela do ônibus, pensa. Quero viajar para Brasília, quero comprar uma poltrona para o quarto, quero viajar para Natal mas a passagem mais barata custa R$ 800. Quero chegar mais cedo no trabalho amanhã, quero ver o jog...

Um puxão na bolsa. Ato reflexo, ela puxa de volta. Recebe mais um puxão. Meio desatenta, olha para cima, interrogativamente.

- Isso é um assalto.

O quê?

Ela finalmente olha em volta. E vê o horror. Revólveres, dois e uma dezena de passageiros abaixados e escondidos entre os bancos e uma cobradora de mãos trêmulas, recolhendo a renda do ônibus e deixando duas moedas cair. Bolsas, compras, celulares, jóias. Medo em todos os olhos, susto em outros, resignação em mais alguns. Ela sente o coração disparar, mas é só. Queria sentir medo, raiva, ficar apavorada, qualquer coisa. O revólver apontado na direção dela. Aquilo não pode estar acontecendo. Ela não esboça reação nenhuma, mas é porque aquilo não é com ela. É num outro mundo, uma dimensão paralela qualquer, um outro ônibus vermelho cheio de gente sendo assaltado às sete da noite na avenida quase engarrafada, mais improvável impossível.

- Me dá o teu celular. Anda, o celular.

A menina e o assaltante se encaram em silêncio por uns dez segundos, quer dizer, uns trinta minutos, ou seja, mais ou menos umas duas horas. Ela tem os olhos vazios e também não consegue ler o que há nos dele. Ele remexe a bolsinha pequena de crochê onde só cabem o celular e as chaves de casa. No bolso, R$ 10 e o cartão do banco e o alívio de não ter saído com carteira, ele nem viu. Ele só leva o celular que, bem, já estava na hora de ser trocado mesmo, nem sei o que ladrão vai querer com aquilo todo arranhado.

Do outro lado, uma mulher, novinha como ela só, segura três sacolas de supermercado. Chora pensando nas filhas pequenas que estão em casa. E se elas estivessem comigo. A outra, atrás, pensa no cordão de ouro e no celular novinho. Eu passo a mão nas costas da mãe, tento acalma-la, desço no shopping já pensando em comprar um celular novo, melhor coisa ter economias guardadas.
Apontaram uma arma pra mim, remexeram na minha bolsa e tiraram meu celular. E eu não consegui pensar em ninguém pra pensar.

4 comentários:

Anônimo disse...

"...Apontaram uma arma pra mim, remexeram na minha bolsa e tiraram meu celular. E eu não consegui pensar em ninguém pra pensar"

Esse trecho é simplesmente tocante!
Esteja receptiva, apaixone-se, é uma delicia. Mas nunca deixe de pensar na base de sustentação que é a familia. Eles estão sempre lá quando voltamos de uma situação dificil como a que você passou.

Anonimo_One.

Hanna disse...

Oxu, Tangerina, É horrivel ser assaltado, aquela atmosfera de "não é comigo" acontecendo... é normal vc só pensar depois no q aconteceu (rever o momento trilhões de vezes), no q podia ter feito! Mas na hora agente age no reflexo msm!?
Rlxa, vc não ficou louca de preocupada pq de certa forma vc é mais centrada! Não tinha por q se descabelar!!!! Enfim...
BJs Cabrita tangerina

Anônimo disse...

Filha,

Como é que tu foi assaltada e não me diz nada, criatura? endoideceu, foi?
Quem foi o malvado que assutou minha filhinha?

Paizão ficô preocupado.

Papai-do-céu te proteja.

Beijos.

Hanna disse...

neh pq c foi assaltada q vc deve parar com o blog... Atualiza sio!