segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Baby, I'm gonna leave you

Segunda-feira, duas horas da tarde e eu à base de café e pães de queijo na redação. O telefone toca.

-Olha só. Fica calma. Lembra que você está no trabalho. Mas eu preciso que você, hm, dê uma olhada no seu e-mail daqui a pouco. Não precisa ser agora, é daqui a pouco mesmo. Quando você tiver um tempo.
-Peraí. O que tá acontecendo? O que foi?
-Nada, nada. Só checa a caixa de e-mails, tá bom? Tem alguma coisa lá pra você. Pra nós todos na verdade.
-Pára com esse suspense. Fala logo.
-Ele vai embora... Ele mandou um e-mail avisando que vai embora.
-Ele quem?

Eu odeio clichês, mas eles são inevitáveis. Ele é o irmão que meus pais não tiveram, o amigo que eu sempre tive, o menino que cresceu comigo. Aquele que na primeira série sentava comigo no recreio e me ajudava a pintar os desenhos do livro de Gramática, mesmo que eu achasse estranhíssimas as influências fovistas que ele tinha para pintura. Para ele todo mundo tinha a cara azul ou cabelos verdes. Vai ver nem era culpa de Matisse, o meu amigo-irmão só devia ter assistido muitos filmes de extraterrestres.

Não foi a pintura vanguardista que nos fez famosos, mas sim a nossa mania de andar juntos o tempo todo, numa idade em que meninos e meninas costumam ter brincadeiras diferentes. Vai ver era por ele ser o único na turma mais novo que eu. Teve um ursinho cor-de-rosa de gravata xadrez que ele pescou na máquina do shopping e não sabia para quem dar, aí terminou ficando comigo e tá pela minha cama até hoje. De boa qualidade, esses ursinhos do shopping. Eu ainda trocava papéis de carta e brincava de boneca, mas das pinturas e amostras grátis de batom que ele pegava na loja da mãe, passamos aos animes e mangás e toda espécie de parafernália oriental que marcou a minha adolescência inteira. Foi com ele também a primeira vez que matei aula de sábado de manhã.

Lá se vão quase dez anos em que a casa dele era o meu porto seguro. Devo ter levado incontáveis amigos e até alguns namorados para lá, apresentando tudo com o maior orgulho, pode ficar à vontade, essa aqui é nossa casa também, é quase como se eu morasse aqui. Acho que nos últimos oito anos mais ou menos, não houve um final de semana em que a casa dele não estivesse cheia de gente de sexta a domingo ininterruptamente, a ponto de todos nós secretamente nos perguntarmos: será que ele não se incomoda? Não sei se já perguntei isso a ele. Sei que ele nunca falou disso.

Quando eu tinha quinze anos eu fui correndo chorar no ombro dele porque os meus pais queriam se mudar para a capital federal e eu não queria ir.
Eu fiquei. Agora é ele quem vai.
Falta menos de uma semana pra ele ir e só mandou um e-mail.
E eu ainda não tive coragem de ligar pra ele e falar do tanto que eu vou sentir falta, porque eu sei que ele vai mandar eu parar de ser dramática e toda emo e blá blá blá.
E vai ficar todo mundo aqui, sem sorriso perene sem o abraço mais fofo do mundo sem as piadas mais idiotas do mundo e sem casa de final de semana.

E tudo vai se resumir num abraço, boa viagem, saudades e tal.

4 comentários:

Anônimo disse...

é um afastamento natural... Umas pessoas vão e outras vêm. =)

Anonimo_One.

Hanna disse...

Aí aí.. Cabrita... esse mês não está para brincadeiras! Não aguento mais tantas mudanças!!!
Mas essa acho q é uma das mais drasticas da minha vida, comparada somente a separação dos meus pais! Vou sentir falta, loucamente! Mas é oq há pra ser feito, só sentir! Logico, vr se ele tah bem.. e se tah ok com a decisão! E apoiar, e tentar manter essa amizade tão boa e divertida qnt a cara dos desenos fovistas da nossa infancia! Mais da sua do q da minha, pq lembro de estar com ele mas não lembro oq faziamos ou brincarvamos! Vc mantem isso ainda tão claro!!! Enfim... Como o anonimo doido de cima disse, começou o afastamento natural...
bjs MIga Tangerine!

MLMM disse...

"Não foi a pintura vanguardista que nos fez famosos, mas sim a nossa mania de andar juntos o tempo todo, numa idade em que meninos e meninas costumam ter brincadeiras diferentes. Vai ver era por ele ser o único na turma mais novo que eu. Teve um ursinho cor-de-rosa de gravata xadrez que ele pescou na máquina do shopping e não sabia para quem dar, aí terminou ficando comigo e tá pela minha cama até hoje."

"Lá se vão quase dez anos em que a casa dele era o meu porto seguro. Devo ter levado incontáveis amigos e até alguns namorados para lá, apresentando tudo com o maior orgulho, pode ficar à vontade, essa aqui é nossa casa também, é quase como se eu morasse aqui."
(...)E vai ficar todo mundo aqui, sem sorriso perene sem o abraço mais fofo do mundo sem as piadas mais idiotas do mundo e sem casa de final de semana.
E tudo vai se resumir num abraço, boa viagem, saudades e tal."

Eu grifei quase o texto todo,mas tudo bem, hehe. Gostei de como escreve, Suzana, já vi que esse talento é de família. Estou passando por um momento parecido,só que sou eu quem vou deixar meus amigos.. Ai,que amigo mais fofo! Animes, cabulação de aula, colorir os livros, ursinhos, batons.. Realmente é muita coisa pra se sentir falta e olha que eu nem estou por dentro da história.

Desculpa vir do nada,mas como no seu orkut não dá pra escrever,eu resolvi vir dar uma olhada aqui e gostei, gostei muito! Parabéns.
Eu e sua irmã, Mônica, costumávamos conversar, não sei se ela lembra de mim, mas de vez em quando eu ligava na sua casa pra falar com ela.Moro aqui no interior, Açailândia, e estou mudando pra São Luís essa semana. Será que você poderia me dar notícias dela? Por um acaso me lembrei dos nossos papos cheios de conteúdo :)
Esse é meu perfil, ficaria agradecida por demais.
http://www.orkut.com.br/Profile.aspx?uid=1990717588923871747

Um abraço!
Lenny.

MLMM disse...

Ah,e meu perfil é esse:
http://www.orkut.com.br/Profile.aspx?uid=1990717588923871747

e se não der pra achar, meu nome lá:
lenny mayran

;***