domingo, 14 de março de 2010

Passando de fase


Com crise de tendinite após algumas horas de jogo, é fácil determinar quando acaba uma fase e começa outra. Geralmente é quando a gente passa pelo chefão. Então aparece alguma luzinha ou animação comemorando o feito, eu ganho mais alguns pontos de vida, pontos de armadura, um item novo ou aprendo alguma magia diferente. Quanto mais poderoso é o chefão, e quanto mais alto é o nível a que você quer chegar, maiores são as recompensas.

Essa mesma mudança de ciclos já não é tão fácil de determinar fora do universo de fantasia. Além de não ter chefão (quer dizer, às vezes tem), os sinais da transição para a fase seguinte são sutis. A gente não sabe bem o que é, mas percebe alguma coisa diferente pairando sobre os ombros. Pode ser alguém que nos desvia os olhos ou um nome que não aparece no quadro ao lado dos outros. Parece que o sol nasce de um jeito diferente.


Saio na rua e o asfalto mede as solas dos meus sapatos com ar de desdém. As esquinas cochicham entre risinhos porque sabem o que vai me acontecer na próxima meia hora e eu não. Se eu tivesse teclado, mouse e monitor na minha frente, o desafio não seria tamanho: mata o monstro, passa de nível, uma espada nova, que legal, prometo que vou jogar só mais cinco minutos, quer dizer, mais dez, parabéns, você chegou ao nível 4542345368, clap, clap, clap.

Só que nas últimas semanas parece que o videogame pifou e eu fiquei sem espada, sem armadura e sem superpoderes. Pior: parece que deu um defeito no gráfico e eu fiquei presa no limbo entre uma fase e outra, sem saber qual será o desafio seguinte. Só eu, com dezenas de currículos e listas de prós e contras, num jogo que não dá para salvar, dar pausa ou reinstalar.

Posso confessar uma coisa? É que eu até me divirto, mas nunca zerei jogo nenhum.