sexta-feira, 3 de junho de 2011

SÁindo com XICO




Eu tinha esquecido a pulseirinha da inscrição e estava na porta do auditório suplicando à recepcionista que me deixasse entrar quando ele chegou, um sorriso do tamanho da sala inteira nos óculos de aro grosso.

Eu sorri e fiquei com vergonha de ir lá cumprimentar. Acho que é porque – falha minha! – ainda não conheço o Xico Sá literato. Mas já gosto do colunista, do blogueiro, do cronista e do jornalista que se mudou pro Alagoas para descobrir o paradeiro de PC Farias, num tempo sem Twitter, Facebook ou celulares com câmera digital pra a gente ser repórter de si mesmo e dos outros, dando pistas.

Pena que por aqui ainda não tenhamos passado desse tempo. Só 7,5% dos maranhenses tem acesso regular à Internet, diz o IBGE. Disse isso e ele respondeu que eu quebrei o entusiasmo dele. Desculpa, cara. A gente ainda chega lá. Isso não tirou o brilho da palestra divertida e inspiradora.

Eu digo que interrogação é incômoda. Xico disse que é um cabo de guarda-chuva, um anzol ao contrário, que incomoda mas a gente tem que levar junto todo dia. Se te mandarem uma interrogação, desentorta e manda uma exclamação de volta, é assim que funciona. Mais: não se preocupe em rebuscar. Escreve do jeito que tu fala, que estilo quem tem é Tolstói e Dostoiévski. A gente dá, no máximo, um jeitinho, montado a partir das referências dessa nossa concepção de mundo greco-nordestina – isso também foi ele que ensinou. Cearense do Crato, Xico diz que nordestino tem um repertório difícil de encontrar em qualquer lugar do mundo. Esta maranhense de Pinheiro concorda.

Eu pensei que as dúvidas acabavam com o tempo e passavam quando a gente ficava adulto. Pro meu azar, Xico disse que tem trinta anos de jornalismo e ainda hoje se pergunta o que fazer com a profissão. A diferença é que ele tem respostas melhores.

- Nasci no mundo Gutemberguiano e amo essa desgraça. E sabe essa história de que tecnologia vai acabar com o jornal? É uma preguiça monumental isso de a gente achar que vão acabar as coisas. Nós estamos condenados a trabalhar que nem jumentos. Vão trabalhar, filhos de rapariga!

Impossível não gargalhar e não concordar. Valeu, Xico!

2 comentários:

Lê Fernands disse...

putz... estou atrás de seus livros. ainda não conheço seu lado literato também, deve ser tão genuíno quanto ele próprio.


irreverência e autenticidade são suas marcas fantásticas.


bjsmeus

tiaselma.com disse...

O papo com Xico flui. Ele faz parte do "Saia". Adoro.

Beijocas!