quarta-feira, 6 de abril de 2011

Coração Estudante

Vai ver Deus, quando fez a gente, colocou um bateristazinho pra morar no peito de cada um.

Em alguns, Ele pôs um daqueles de orquestra de música erudita: sempre no tempo e na intensidade certa, sabe a hora de acelerar e bater com os pratos num momento particularmente dramático para, logo em seguida, desacelerar e ouvir quietinho os violinos que acordam as borboletas no estômago. Nunca saem do compasso. Eu já devo ter ouvido falar de algum assim, mas tenho quase certeza que havia anões ou sapatinhos de cristal envolvidos. Não me lembro.

Já viu gente com compasso de música tecno? Dá para gostar deles, de início. São acelerados num ritmo que dá vontade de acompanhar. Por uns tempos, você se diverte e entra na dança, mas o compasso repetitivo pode acabar minando a sua vontade de continuar na roda. Conheço muita gente assim. Em geral, eles não se perdem – mas são pouco criativos. Geralmente nascem, crescem, reproduzem e, embora façam isso com relativa perfeição, sempre morrem no final.

No extremo oposto, também já conheci uns que tem dentro de si toda uma bateria de escola de samba: batucam tão rápido e mudam tanto de compasso que você tenta e os pés não respondem. Tenta brincar de matar barata como lhe ensinaram para dançar direito e percebe que aquele ritmo não é o seu, e é melhor cair fora rapidinho antes de ser levada pela adrenalina constante da comissão de frente mais carro alegórico, alalaô, abre-alas que eu quero passar. Já deixei ir faz tempo, fiquei para trás.

A maioria de nós, porém, começa com pequenos aprendizes dentro do peito. Desses que vira e mexe erram o compasso, perdem o tempo, falham uma batida. Improvisam um quatro por quatro acelerado quando a situação pedia, no máximo, um reggaezinho suave. Ou, pior, você está lá procurando um sintetizador de pancadão carioca e ele improvisa, no máximo, uma balada. Dizem que cabe à gente ensiná-los.

Ensinar não é fácil, pergunte a qualquer jovem estudante. Coordenar caixa e bumbo e surdo e pratos e átrio ventrículo sístole-diástole. Mas há quem diga que, bem orientados, estudantes aplicados podem se aproximar até mesmo dos tais integrantes de orquestra erudita acima descritos. O problema é que eu, que sempre fui estudante inteligente, mas preguiçosa, claro que tinha que vir com um baterista igual. Toda hora ele erra uma batida. Só que, para falar a verdade, são os meus momentos preferidos. Porque é quando falha uma batida que a gente perde o fôlego. E eu não vejo a hora de ele errar o compasso outra vez.

2 comentários:

~ Lu ~ disse...

quando li juro que pensei meia duzia de palavras de baixo calão... mas...

... e aí, quando o compasso sair do tom de novo, o que faço?

tiaselma.com disse...

Minha Su escrevendo como nunca!

Adoreeeeeeei!!!

Beijocas.