domingo, 23 de janeiro de 2011

Quando a gente perde algo que queria muito

Quando a gente perde algo que queria o primeiro instinto é chorar. A gente olha para os lados e tenta disfarçar das colegas de trabalho que estão na mesma sala e não vão entender patavina. Vai um longo caminho até a gente entender que está entre amigos e que vai ganhar um monte de abraços quando as primeiras lagriminhas virarem torrente de choro compulsivo – daquele, que fica provocando espasmos por duas horas e meia depois do meltdown. É bem nessa hora também que dá para perceber que a gente não queria abraço nenhum, mais legal seria um choro quieto, escondido debaixo do lençol com a luz apagada, hoje eu não durmo, perdi tudo, até o sono, pronto.

Quando a gente perde algo que queria muito o primeiro instinto é correr morro acima ou escada abaixo pra pegar de volta. Vai ver a gente acha que se correr rápido o suficiente, der um puxão e gritar “devolve!” volta a ser nosso como num passe de mágica. A gente quer chorar a dor do que foi roubado, gritar da ponta do precipício um amor que escapuliu não importa o quanto a gente tenha apertado com as mãos ao segurar. A gente quer não ter se atrasado e ao mesmo tempo se pergunta se não terá sido cedo demais. Acaba o fôlego porque todos os gritos ensaiados na garganta foram embora junto, só não sei pra que lado.

Quando a gente perde algo que queria muito a gente acha que nunca mais vai ter nada na vida. É um estar parado no primeiro acampamento rumo ao Everest e todos os sherpas foram embora. A gente ouve calado, engole em seco comprimidos que não dá para mastigar, mas sempre tem um ombro de amigo quando a garganta fecha e a gente tem que ruminar os sapos para não estragar a amizade. Sobram abraços. Daqueles que, quer a gente queira, quer não, sempre viram gargalhada. Sobra uma interrogação muda no fim da noite, uma piscadela marota às quatro da manhã.

Quando a gente perde algo que queria muito a gente percebe que está cheio de amoramigos.

5 comentários:

Mariana de Castro disse...

O que eu perdi foi o fôlego,ao ler este texto. Me emocionei de verdade... Você conseguiu resumir em um post o que eu vinha tentando dizer já faz uma dezena de textos...

tiaselma.com disse...

Lindo, lindo... Tanto quanto doído.
E tem coisa mais indispensável do que um ombro amigo para as lagriminhas?

Beijocas!

Lu disse...

nossa... é bem assim...

mas e quando a gente perde algo e, daquele jeito que só a vida sabe fazer, achamos algo melhor do que o que perdemos?

acho que tô assim... como diria uma amiga minha: "comofas?"

Anônimo disse...

A tua sensibilidade e capacidade para descrever o que sente é incrivel ! :)

Tens msn?

Gaúcha*** disse...

Nem tentei segurar as lágrimas...
Estou vivendo uma fase que nem sequer consigo descrever. Sabe aqueles dias em que ficamos perdidas entre lembranças e interrogações? ...
Enfim,adorei o blog e a tua maneira de escrever. Vou seguir.
Beijo!
=*