segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Dá-se explicação

Aí diz que eu fui procurar nos livros do tempo da faculdade alguma coisa que me fizesse voltar a me apaixonar pelo jornalismo. Folheando a estante desarrumada eu reencontrei o Noblat. E um trecho que ele falava da sua viagem a Angola. Noblat me contou que, nas ruas mais distantes do centro de Luanda, capital angolana, é possível encontrar casas com os dizeres na porta: “Dá-se explicação”.

Ele pensou logo: “Que maravilha! Imaginem encontrar um lugar onde se dão explicações sobre qualquer assunto! Perguntem que tudo lhes será respondido!”.

E fazendo o trabalho de todo repórter, que é perguntar, imaginei logo uma lista das coisas que queria ver esclarecidas. Poderia perguntar como é que a cidade maravilhosa que eu visitei há pouco mais de um mês ganhou contornos de guerra civil de repente, com direito a saldo de helicópteros abatidos e números de mortos e feridos divulgados na imprensa diariamente.

Como repórter de cidade que sou, poderia também perguntar se o sistema Italuís vai ser restuarado ou se vamos ter um colapso geral do sistema de abastecimento, com a cidade inteira sendo obrigada a carregar baldinhos d’água na cabeça, etc. Ou se as praias de São Luís estão mesmo tão poluídas como dizem e qual dos quatro relatórios de contaminação, afinal de contas, tem os dados corretos.

Mas nem só de reportagens se faz o meu dia-a-dia e nem foi especificada sobre o que é a explicação fornecida. Então, alguém me explica como a gente tira da cabeça uma paixonite platônica? Como a gente trabalha 15h por dia sem adoecer? Como a gente perde 20kg ganhos ao longo de dois anos? Eu faço uma nova faculdade ou invisto na pós-graduação de fotografia? Escrevo um livro ou faço um concurso público? Como por quê, onde, assim como? E agora?

Noblat não me convenceu que vale a pena continuar a ser jornalista. Nem os angolanos teriam as explicações para tudo que eu desejava saber já que, como ele contou mais adiante, os tais “explicadores” eram professores aptos a dar aulas particulares – quase sempre, de Português. Mas aprendi que o caso é também de fazer as perguntas certas. E, na maioria dos casos, as respostas só quem pode dar é a gente mesmo.

5 comentários:

tiaselma.com disse...

Su, a guerra civil não se instalou há pouco no Rio. Ela vem dando sinais faz tempo e as autoridades empurrando para debaixo do tapete: crescimento de favelas, tráfico e má remuneração dos policiais...
Quanto à última frase do post, é isso: a resposta está dentro de nós. Sendo que TEMPO é um auxílio-luxuoso cuja importância, muitas vezes, desprezamos...

Beijocas da fã e leitora.

Carolina Graça Mello disse...

acorda cedo pra caminhar e assim, lutar contra a balança pra peder os 20 kilos;

enfrenta as 15h de trabalho com toda a paciência e bom-humor possíveis (aconselha-se meditação no fim do dia);

faz a pós de fotografia e depois o outro curso (de preferencia, em outra cidade);

passa num concurso com salário lascando de bom só de birra, e escreve um livro depois.

o platonismo deixo por tua conta.
:*******

Luana! disse...

Estranho mesmo procurarmos tantas respostas para dar a tantas pessoas que não conhecemos e, ao mesmo tempo, não ter as respostas para as inúmeras interrogações que permeiam nossas cabeças de jornalistas no auge...da frustração. =S

Camila Chaves disse...

rapaz...

eu costumo encontrar explicação para as coisas. mas, confesso que tenho uma baita impressão que a maioria delas são furadas e não passam de pura enrolação. hahaha. mas é que é sempre bom ter um porquê.

fiquei pensando sobre essa história da poulição das praias e quantas pessoas deixaram de mergulhar no mar por conta disso. eu não. prefiro encontrar outra explicação que não a dos relatórios.

mergulhar é bom quando se quer encontrar respostas.

quanto a essa da paixonite platônica, quando descobrires, me conta? hahaha

beijos

Allyson Veras disse...

Mrs Tangerina,

Não sei ao certo como cheguei aqui...
Digo apenas, que foi uma excelente surpresa descobrir o seu texto.

Aguardo sua visita à bodega

Abs!