terça-feira, 17 de novembro de 2009

Respeitem meus cabelos, curtos


- Pode passar a tesoura.

- Tem certeza que não vai ficar muito curto?

- Vai, mas é assim que eu quero. Sempre quis o cabelo curtinho assim.

- Então, tá. Eu acho melhor um pouco mais comprido. Mas é responsabilidade sua, não reclama se não gostar.

Eu devia ter uns cinco anos quando do primeiro corte de cabelo que ficou gravado na memória. Minha mãe me levou ao salão de beleza e disse “quero para a minha filha ficar bonita que nem a Lídia Brondi da novela”. Tive que recorrer ao Google para lembrar quem era a tal. Até hoje não sei se saí bonita – mas lembro dos olhares enviesados na escola, a única menina que misturava no uniforme saia pregueada com cabelo de menino.

Até o crespo que hoje pede a mão cheia de creme para domar a manha de toda manhã é fruto de um corte malfeito, aos onze anos de idade. A mistura de corte “em camadas” com “estaqueado” com “repica um pouco a franja aqui em cima” virou cara de espantalho em final de colheita e desencadeou um estrago sem precedentes na autoestima da menina pré-adolescente. O cabelo, que antes era liso escorrido sem dar uma volta, se revoltou com a tesoura cega, ganhou voltas onde não tinha e humor próprio, ficando do jeito que quer todo dia – e nunca do mesmo jeito.

Eu adoro falar de cabelo. Já escrevi aqui sobre cabelo curto, sobre curtir as coisas e entrar em curto-circuito. Mas vai ver é porque para a comum das mortais, dentre as quais eu me incluo, satisfação com as madeixas é o início de um dia de sucesso. Não é à toa que dia ruim em inglês é “bad hair day”. Daí que por isso mesmo mandei deixar tudo curtinho inho inho arrepiado até onde presilha nenhuma alcança.

- Não ta horrível, mas... bem que poderia ser mais compridinho...

- Mas precisava isso tudo? Olha só, nem prender você consegue mais.

- Ah, não gostei, você ficou com cara de mais velha.

- Cara de senhora, parece assim uns 35 anos.

- O problema é que esse corte te engordou.

- Bom, vai crescer, né?

Nem sei, ou antes, nem quero. Na terra das cabeludas de madeixas lisas e 50kg e metro e meio de perna eu passeio com 81kg, óculos escuros e meu curtinho todo embaraçado. Não é, nem de longe, a verdadeira beleza. Mas acho que começou a parecer um pouco com a verdadeira autoestima.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Agenda cheia

- A gente devia sair uma hora dessas.
- É, pode ser.
- Que tal na sexta?
- Ih, sexta é o meu dia mais corrido. Nunca saio do trabalho antes de meia-noite e aí, já é cansada demais para fazer qualquer coisa.
- Puxa, que pena. Então que tal no sábado?
- Sábado eu vou trabalhar também. É que tem esse evento, e eu preciso acompanhar...
- Bom, ainda tem o domingo...
- Domingo é pior ainda, porque é o encerramento do tal evento. Não sei que horas saio de lá e, bom, na segunda meu horário é cedinho, tenho uma reunião com um cliente e preciso estar na empresa antes das 8h...
- Nossa! Você não tem tempo livre nem durante a semana? E se a gente saísse para almoçar?
- Mas como? O almoço é a única hora que vou ter para reunir com a minha equipe na semana que vem!

O engraçado é que ele tinha me perguntado, minutos atrás, porque eu estava solteira.
Acho que agora ele entendeu.