quarta-feira, 29 de julho de 2009

A(meu)gosto


A gosto de quem? Desgosto de quem? Com gosto de quê? Agosto, eu gosto. Desde que seja, claro a meu gosto.


Mas alguns meses tem gosto esquisito. Julho é desses. Foi um mês estranho, com jeito de remédio de febre que a gente só toma para a mãe não brigar. Foi mês com gosto de cama fria e solidão e de perder celular e conexão com a Internet e ficar totalmente incomunicável por dias. Foi mês sem gosto de crônica no blog. Mês de pouco sair e pouco ver. Enfim, um mês sem gosto - até literalmente, já que, assustada com o ponteiro da balança subindo a patamares nunca dantes vistos, comecei a 284ª dieta.


Agosto, por sua vez, tem outro gosto – e dessa vez é um que não rima com palavra ruim.


Pra começar, é gosto de férias – as primeiras em três anos. Gosto de chocolate e refrigerante, que sou moça de muita iniciativa e pouca acabativa e por isso regime nenhum persiste. Gosto de roupa nova coisa nova e gente mais nova ainda, mesmo velha. E – o melhor de todos – gosto de cidades novas.


Então ficou assim: três cidades – ou menos, se o meu dinheiro acabar antes. E desde já, to com gosto de quero-mais e uns desejos de um poder durar para sempre que, infelizmente, vão ficar insatisfeitos.


O avião sai às três da manhã, mas jajá eu volto.


Enquanto isso, aproveite a gosto.



domingo, 12 de julho de 2009

Um dia de gênio



Se você pudesse ter um dia só para você, o que faria?

Acordei pensando no gênio da lâmpada. O sonho foi tão real que parecia que ele tinha mesmo acabado de me fazer essa pergunta. O que eu faria? E você?

Devo ter pensado numas duzentas e cinqüenta e sete mil coisas nos trinta segundos que se seguiram. Pensei no sonho conhecer qualquer coisa fora do Brasil, fosse a Europa, a América do Sul ou qualquer coisa lá no meio da África bagunçada por uma guerra civil. Pensei em conhecer coisas dentro do Brasil também. Voltar a Natal, Brasília, ao Rio e conhecer São Paulo – o caos delicioso que eu já amo mesmo sem nunca ter visitado.

Mas não. Já vou a São Paulo e ao Rio no mês que vem de qualquer jeito (iupi!) e seria um desperdício ter só um dia na vida para ver tanta coisa interessante. Cidades têm que ser conhecidas aos pouquinhos, com olhar de documentário e não de turista, para a gente sair de lá com a impressão certa e as melhores histórias para contar. Não, viajar não é a minha escolha.

Também poderia pedir ao gênio montes de dinheiro e todos os chavões e trocadilhos que vem junto. Não traz felicidade, mas ajuda a comprar, costuma dizer o meu pai. Não compra amor, mas compra gente para fazer amor, brinca um amigo meu com um sorriso sacana. Tenho uma amiga que contabiliza o salário em cervejas. Outra, em sapatos. Não seria bom então que, por um dia, eu pudesse comprar tantos sapatos quantos quisesse, beber todas as cervejas que desejasse, comprar amores e favores?

Mas nem é. Nunca sonhei em ser rica e depois, pechinchar é divertido, olhar uma arara e outra e ir parar na prateleira de liquidação. Estar no final do mês sem um tostão na carteira e ter amigos que te levam pra sair numa quinta-feira chuvosa e pagam bebidas que brotam magicamente na tua mão. Não, eu não preciso de dinheiro. Amor eu tenho pouco, mas é de graça.

O gênio percebe o meu sorriso embevecido e me faz uma terceira oferta. E se, por um dia, eu pudesse ter o amor que desejasse? Um dia inteiro agarrada no moço dos olhos bonitos para quem eu olho torto há uns dois anos sem receber de volta um sorriso com segundas intenções. Ou, quem sabe, um dia com o moço inteligente da voz bonita que vive me chamando para sair, e quando digo “Então, vamos!” ele responde que tem trabalhado demais e está cansado...

Respondo que não, gênio, não tem graça. De que me serve um dia só para saber como é e ter só ausência depois? Eu quero e peço pouco: nem precisa ser pra sempre, mas bem que podia ficar por amanhã e depois e depois de amanhã e algumas centenas de dias ainda por vir na minha vida, e ser daqueles que vão e deixam boas recordações e uma saudade bonita. Mas um dia só, é só para deixar gosto ruim na boca.

Resignado, o gênio suspirou. Sentou ao meu lado, provavelmente desejoso de entender a condição humana e a minha indecisa condição libriana. E aí o telefone tocou e era assunto de trabalho e eu pedi licença ao gênio para atender e de repente percebi o que queria. Desliguei e falei.

Seu Gênio, é o seguinte. Eu quero um dia meu, um tempo para mim. Quero um dia em que não precise fazer nada, que tanto faça levantar da cama ou continuar dormindo. Um dia tão nublado que a maior graça dele seja fazer xixi e voltar para a cama. Um dia chato pra dedel, mas sem celular tocando, sem obrigação, sem nada para fazer, por opção ou obrigação. Um dia para tirar folga de mim, um dia para não viver.

Ele suspirou, fez um muxoxo, emendou com uma cara de quem não entendeu, e me atendeu. E fez os domingos...

sábado, 4 de julho de 2009

O cara que eu mais amo no mundo

Este é um texto para o cara que eu mais amo no mundo.

Ele não ri barulhento e escandaloso feito eu. Não sei de onde puxei isso. Mas ambos temos o mesmo jeito de sorrir muito, com os olhinhos quase fechados e de qualquer besteira que soe remotamente engraçada. Nós dois temos o mesmo jeito de fazer trocadilhos sem graça e rir sozinhos deles depois. Tipo naqueles dias que ele queria falar sério comigo e não conseguia, e terminava disfaçando com um: “Presta atenção, tu não presta...”. Hoje a gente sabe que presta, e muito, um para o outro.

Esse é um texto para o cara que mostrou desde muito cedo as grandes conseqüências das minhas menores escolhas. Eu nunca me importei muito. Talvez por sermos tão parecidos, algo em mim de vez em quando me lembra que tenho um futuro interessante pela frente. Afinal, ele teve. E da mesma maneira, provavelmente daqui a uns vinte e cinco anos vou olhar ao meu redor e vou gostar do que vir. Não é só doutor que vive, não é? Ele disse isso quando tinha a minha idade. E estava certo. A gente que não é doutor vive mais.

Mas esse é um texto para o cara que é grandão e, por isso, me fez meio grandona e fora dos padrões também. Que me legou essa eterna luta contra a balança e o zíper das calças jeans. E, ao mesmo tempo, é um texto para o cara que, do mesmo jeitinho que eu faço, questiona isso de viver escolhendo o dia inteiro e se pergunta se não teria sido melhor usar o anel em vez de calçar a luva, sair correndo em vez de ficar tranquilo, subir nos ares em vez de ficar no chão, guardar o dinheiro em vez de comprar o doce, ou isto ou aquilo.

É um texto para o cara que, tal como eu, de vez em quando se olha no espelho e não se reconhece. Para o cara que, vez por outra, quer se encostar num canto e desejar não ter nada mais que dar conta. É para ele mesmo, aquele cara que precisa que precisem dele e, no entanto, nem sempre acerta o que fazer para ajudar. E mesmo quando acerta, tem mania de achar que está errando. Mas não tem problema: já valeu a intenção.

É um texto para o cara que perde a motivação e acha que perdeu a esperança de vez em quando, mas que volta e meia as reencontra de mãos dadas, numa esquina virada, num telefonema ou de repente até perdida no meio da blogosfera. É um texto para o cara que eu sei que vai querer chorar quando ler esse texto.

Um texto para o cara mais parecido comigo que eu já vi no mundo, mas que eu amaria mesmo que fosse totalmente diferente, porque tem amor que é incondicional e a gente não escolhe e eu amaria mesmo que ele não me acreditasse, ou não confiasse, ou não estivesse nem aí. Mas ele está, mesmo quando não liga muito e só me conta nas entrelinhas o quanto tem precisado de mim.

Enfim, este é um texto para o cara que eu mais amo no mundo.

Um texto para o meu pai...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sonho sonhado só

Eu ainda sou novinha –nem passei da casa dos vinte e poucos para a dos vinte e muitos. Mas já falo com saudosimo. É que eu costumava ser do tempo em que as pessoas tinham sonhos.

Nem comer precisava. Queria correr o mundo e ver coisas e pessoas e engolir cidades e fazer de tudo pedaços de amor e de chocolates e uma casinha em amarelo clarinho, onde todos viveriam para sempre e onde nunca se ficaria sozinho num sábado à noite, onde chocolates não teriam calorias e onde eu usaria todas os vestidinhos do mundo sem nenhum deles marcar a barriguinha, fim. Mas o tempo passa, e um apartamento para chamar de seu, mesmo que não seja feito de chocolate, começa a fazer parte da lista de itens indispensáveis à vida. Junto, claro, com uma promoção no trabalho, um aumento e uma pós-graduação.

Daí que não se sonha mais dormindo: até porque se dorme com remédios. Tipo eu que aos 23 dependo de uns florais para conseguir pegar no sono por quatro horas diárias. Daí que não se sonha mais acordado: se faz projeto, planeja, elabora um documento, faz justificativa, lista de prós e contras e árvore de possibilidades.

Você é desses? Bem-vindo. Eu nem lembro mais que gosto tem uma escolha sem pensar em conseqüências, um telefonema só porque ah-que-vontade-que-eu-estava-de-ouvir-sua-voz. Tem que ser preto no branco, gosta de mim explique o porquê para que eu possa avaliar se daríamos certo juntos, favor preencher este formulário e aguardar retorno. Faço pauta e roteiro e chego em casa lendo uns seis jornais e umas três revistas tudo ao mesmo tempo porque, afinal de contas, preciso ter opinião formada sobre tudo, incluindo o golpe militar em Honduras, a crise no Senado e quem deve ficar com os filhos de Michael Jackson. Suspiro de ponta do nariz colada no nariz alheio e sorriso sem razão? Dá tempo não, baby. Tem muita coisa pra fazer.

Vai ver se Martin Luther King vivesse hoje ele não teria dito “Eu tenho um sonho”. Convocaria de uma coletiva de imprensa e nos jornais do dia seguinte sairia algo assim: “Tenho diversos projetos que gostaria de ver concretizados, sugiro que montemos uma coalizão”. E se fosse no Brasil, quando o projeto ficasse pronto e fosse aprovado pela Câmara e pelo Senado com todas as suas emendas e o aval do presidente Lula, King estaria quase nos 80. Mas vai ver também é assim que (não) funciona hoje. Você idealiza? Pois é. Hoje em dia, nem eu.